Clostridium difficile, principal agente etiológico da colite pseudomembranosa, é um bacilo Gram-positivo anaeróbio presente na microbiota intestinal de até 20% dos adultos hospitalizados, dos quais 1% a 5% desenvolvem diarreia e 95% a 99% permanecem assintomáticos. O risco de contrair a infecção parece ser diretamente proporcional ao tempo de internação e ao uso de antibióticos 1,2.
O quadro clínico decorrente dessa infecção varia desde quadros assintomáticos até quadros de diarreia incoercível, com consequente sepse e megacólon tóxico. A taxa de mortalidade pode chegar a 58% 3. Atualmente, o tratamento recomendado é a antibioticoterapia com metronidazol e/ou vancomicina, mas a resposta a essa terapia pode ser precária, e a taxa de recorrência chega a 25% 4.
A mais recente alternativa para o tratamento da diarreia por Clostridium difficile recorrente é o transplante da microbiota fecal (TMF). O conceito não é novo e as primeiras publicações a respeito datam de 1958. Porém, por vários motivos, desde culturais até a descrença do meio científico, passaram-se mais de cinco décadas até que essa linha de raciocínio fosse retomada. O TMF é considerado experimental e, neste momento, permissível apenas para o tratamento da diarreia causada por Clostridium difficile, que não tenha respondido às terapias padrão 5,6.
Estudo avaliou a eficácia do TMF para a infecção por Clostridium difficile em uma coorte israelense. Foram incluídos pacientes que receberam TMF por recidiva (recorrência dentro de 8 semanas do tratamento medicamentoso) ou refratário de 2013 a 2017 de cinco centros médicos de Israel. O trabalho concluiu que o TMF é um tratamento seguro e eficaz para a infecção por Clostridium difficile, e que a utilização de cápsula é considerada uma rota bem sucedida e bem tolerada 2.
Segundo Ganc et al, 2015, O indivíduo doador é geralmente um membro da família do paciente e que se enquadra em alguns critérios, como não ter feito uso de antibiótico nos últimos 6 meses, não ser imunocomprometido, e não ter antecedente de uso de drogas ilícitas, tumor ou doença inflamatória intestinal. Alguns exames prévios também são necessários, e o sequenciamento genético do microbioma intestinal pela técnica 16S rRNA torna-se importante estratégia para conhecer a composição da microbiota dos doadores e, consequentemente, atingir os objetivos esperados com o TMF.
Dado o sinal de benefício observado até agora, estudos multicêntricos são um próximo passo importante e devem ser elaborados para responder a perguntas sobre métodos de fornecimento de TMF, mecanismos de ação e durabilidade em longo prazo dos efeitos 7. Além disso, a utilização do TMF como tratamento primário para outras condições associadas ao desequilíbrio no microbioma intestinal deve ser estudado 7.
Referências:
Kassam Z, Lee CH, Yuan Y, Hunt RH. Fecal microbiota transplantation for Clostridium difficile infection: systematic review and meta-analysis. Am J Gastroenterol. 2013;108(4):500-8.
Greenberg SA, Youngster I, Cohen NA, et al. Five years of fecal microbiota transplantation – an update of the Israeli experience. World J Gastroenterol. 2018; 24 (47): 5403-14.
Rubin TA, Gessert CE, Aas J, Bakken JS. Fecal microbiome transplantation for recurrent Clostridium difficile infection: report on a case series. 2013;19:22-6.
Ganc Aj, Ganc RL, Reimão SM, et al. Transplante de microbiota fecal por enteroscopia alta para o tratamento da diarreia causada por Clostridium difficile. Einstein. 2015; 13 (2): 338-9.
Kelly CP. Fecal microbiota transplantation–an old therapy comes of age. N Eng J Med. 2013; 368(5):474-5.
Eiseman B, Silen W, Bascom GS, Kauvar AJ. Fecal enema as an adjunct in the treatment of pseudomembranous enterocolitis. 1958; 44(5):854-9.
Kelly CR, Ananthakrishnan AN. Manipulating the microbiome with fecal transplantation to treat ulcerative colitis. 2019;321(2):151–152.
Sabemos que o equilíbrio entre os componentes da nossa microbiota, que inclui bactérias (seu principal componente), archaea, eucariotas, vírus e fungos, é necessário para a manutenção da saúde intestinal e/ou extra intestinal.
Jee et al. enfatizam, na introdução do seu estudo, que a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é a forma mais comum de doença hepática, compreendendo desde a esteatose simples, até a esteatohepatite (NASH).