Wang JE, Kim SE, Lee BE et al. The risk of diffuse‑type gastric cancer following diagnosis with gastric precancerous lesions: a systematic review and meta‑analysis. Cancer Causes & Control (2022) 33:183–191
Comentarista:
Paulo P. Assunção (PA)
Resumo:
Objetivo: Os adenocarcinomas gástricos são classificados como do tipo difuso (DTGC) ou do tipo intestinal (ITGC). DTGCs têm características clínicas e características histopatológicas diferentes e carregam um pior prognóstico geral em comparação com ITGCs. Gastrite atrófica (AG) e metaplasia (IM) são precursores conhecidos para ITGC. Não se sabe se AG e IM aumentam o risco de DTGC.
Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática para identificar estudos relatando a associação de AG/IM e DTGC. Foi calculada a razão de chances (OR) da associação dos estudos e também realizada uma análise de pool. A análise de subgrupo foi realizada em estudos relatando gravidade histológica para avaliar se a gravidade histológica de AG/IM foi associada com maior risco.
Resultados: Seis estudos de caso-controle e oito estudos de coorte foram incluídos. Ambos AG (OR = 1,9, 95% CI 1,5 a 2,4, p<0,001) e IM (OOR=2,3, 95% CI 1,9 a 2,9, p<0,001) demonstraram uma associação com DTGC. AG acentuada foi associada com risco aumentado para DTGC em comparação com AG menos intensa (OR=1,7, IC 95% 1,2 a 2,3, p=0,002). De forma similar, IM acentuada foi associada a risco aumentado em comparação com IM menos intensa (OR=1,9, IC 95% 1,3 a 2,7, p=0,001).
Conclusão: Ambos AG e IM estão associados com DTGC. O aumento da gravidade histológica de AG e IM aumenta o risco de DTGC. Pode existir uma via comum entre ITGC e alguns DTGCs mediada por lesões precursoras da mucosa.Esses dados podem informar estratégias futuras de atenuação e controle do risco de câncer.
Comentários:
O estudo consiste em revisão sistemática com meta-análise objetivando avaliar se alterações histológicas (atrofia e metaplasia intestinal) reconhecidas como fatores de risco para adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal (ITGA), também aumentariam o risco para adenocarcinoma gástrico do tipo difuso (DTGA).
Adicionalmente, investiga se a gravidade das lesões, graus III e IV, tanto para atrofia quanto para metaplasia, aumentariam o risco para DTGA, como o fazem para o ITGA.
A principal motivação para a investigação decorre da inexistência/desconhecimento de lesões pré-neoplásicas no DTGA que pudessem propiciar estratégias para diagnósticos precoces baseadas no seguimento/intervenções sobre grupos de risco identificáveis pela presença das mencionadas lesões, como descrito para o ITGA.
Os autores concluem que atrofia e metaplasia intestinal aumentam o risco para DTGA e que a gravidade das lesões resulta em riscos mais elevados sendo, portanto, a vigilância sobre estas lesões benéfica para o controle do DTGA.
Os autores, com larga experiência no tema, consideram a existência de vias de carcinogênese semelhantes ao ITGA, em alguns casos de DTGA. Esta possibilidade é também aceita por outros importantes pesquisadores.
Trata-se de informação relevante clinicamente, sem, entretanto, desconsiderar a potencial existência de outras vias distintas no DTGA, nem reduz a necessidade de investigações científicas que desvendem mecanismos e, eventualmente, identifiquem outros alvos histológicos/moleculares que favoreçam o controle destes tumores (1).
A mensagem a ser incorporada é da valorização do diagnóstico e acompanhamento de atrofias e metaplasias, pois podem implicar em riscos para adenocarcinomas gástricos e favorecer eventuais diagnósticos precoces, impactando nos desfechos clínicos.
1. Assumpção PP, Barra WF, Ishak G, Coelho LGV, Coimbra FJF, Freitas HC, Dias-Neto E, Camargo MC, Szklo M. The diffuse-type gastric cancer epidemiology enigma. BMC Gastroenterol. 2020 Jul 13;20(1):223. doi: 10.1186/s12876-020-01354-4. PMID: 32660428.
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